quarta-feira, 3 de outubro de 2012

Afra de Massa-má.

Foto : Luís Sérgio



Numa certa floresta vivia um papagaio chamado Afra de Massa-má, mais conhecido por PPC (Palrador Preferido do Capital). Criado desde cedo numa gaiola de privilégios não precisou de se esforçar para sobreviver, os seus donos alimentaram-no com o que havia de melhor: Gaiola dourada, comidinha super, e uma quinta nos arredores de uma das mais lindas serras de Portugal. Em idade escolar inscreveram-no na creche dum tal PPD, Partido dos Parasitas Daqui e além mares/ Paridos Sem Dono. De fala desenvolta, falando falso, revelou-se muito rapidamente, muito velozmente, um dos melhores alunos em matéria de sofismas e demagogia. Nas férias foi frequentando, com ótimas notas, (repare-se que escrevo notas, não classificações) as “ditas universidades de Verão” do PPD, espécie de galinheiro, onde os gurus do capital, vão perorar sobre tudo, mostrando nada saber, a não ser mentir, tergiversar e enganar o povinho. Escolas de formatação e vazio, estas desditas “universidades”, inculcaram na mente da ”nossa” ave a ideia de que para vencer na vida só precisava de estar do lado certo da barricada. E estar do lado certo da barricada implica hoje defender uma coisa e amanhã outra, desde que isso sirva ao tacho capitalista e ao próprio tacho.
Da creche, alguns chamam-lhe” jsd” rapidamente transitou para a gaiola mãe, onde muitos e muitas se digladiavam para ascender ao cargo de “galo-mor”, “o despertador”, o timoneiro do capital que, com seus dotes de oratória, cantarola acordando as restantes aves para o dia que começa.
 O galinheiro à beira mar plantado estava de pantanas, as aves quase já não tinham que comer, tal o desgoverno a que o seu primo (a família papagaio é grande e tem muitas ramificações), Jazz Solípede, distinto aluno duma universidade dependente, mais conhecido pelo nome de um famoso filósofo, sujeitara a capoeira. As raposas Famintas e Muito Iradas rondavam o galinheiro, queriam cobrar a dívida, iniciar o resgate, diziam: ”seremos a salvação”, para isso, dispunham-se, muito generosamente, graciosamente, com o mais elevado altruísmo a enviar para a capoeira a sua melhor equipa, o famoso triunvirato: Fome, Miséria e Desemprego, mais conhecido pelo inapropriado nome de Tróica.
Não aguentando mais, as aves correram com Jazz, hoje emigrante de luxo, na Parislhone, conhecida estância turística à beira do Sena. Prometendo tudo mudar para melhor, falando sempre sofisticamente, docemente, na mais linda das cantorias de papagaio demagogo e mentiroso, Afra alcandorou-se ao poder. Ficou famoso e para a história o seu discurso às aves enquanto oposição, face às medidas austeras de corte na ração por parte do governo de seu primo. E porque foram escritas na pedra da memória, aqui as deixo, para que as aves atuais e as vindouras nunca esqueçam do que é capaz um papagaio que, com passos de coelho, iludiu muitos para servir o grande capital financeiro:
            “O anúncio das medidas adicionais é uma prova gritante do desleixo, da falta de rigor, da incompetência do desnorte (…) Voltam a lançar-se exigências adicionais sobre aqueles que são sempre sacrificados. Não há desculpas nem alibis.”
 

Diz o Mocho, sempre atento e desconfiado destas manobras, que terão sido estas fingidas palavras, sem substância, que fizeram com que as galinhas corressem “que nem baratas tontas” a votar em massa no farsante, enquanto gritavam: “Como os gregos não! Como os gregos não!”. Gregas se viram elas, quando poucos dias depois de tomar o poder, Afra determinou que lhes tirassem mais de metade da ração, incluindo os ditos extras. Consta que algumas morreram à fome, outras foram abatidas para ser vendidas aos mercados, coitadinhos, andavam muito nervosos e assim não podia ser.
- “É preciso pagar a dívida”, dizem os patos bravos que entretanto foram ganhando mais poder. Precisamos de tempo. Por esta altura já as raposas tinham entrado no capoeiro e a fome e a miséria aumentavam a cada segundo. Mas, o Mocho sempre atento e desconfiado destas manobras gritou com toda a sua energia:
 -Não pagamos, uma dívida que não nos serviu! Se pagarmos morremos à fome. Que a paguem os patos bravos que estão a enriquecer com os juros e com a miséria do capoeiro.
No dia seguinte vieram os guardas e levaram o Mocho. Na floresta, com o chão cheio de penas, reina o medo e a indignação contidas. Apesar disso, algumas aves já cantam: “mas que dívida, quem a contraiu, para pagar o quê”?
 - Parcerias Para Patos bravos; aos corvos da banca; às aves de rapina, de linhagem nazi, como o Corges da galinha saxes que, segundo dizem, com todo o desplante, especula e ganha com a miséria?!

4 comentários:

  1. Companheiro !
    Bem pensado, bem visto.Ao melhor nível. Realmente a questão fundamental é a dívida, é aqui que bate o ponto.
    Grande abraço,
    Filpe

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  2. Grande Luís Sérgio: depois deste texto é assim que me curvo à tua prosa!

    Faz-me lembrar aquele célebre diálogo entre Colbert e Mazarino durante o reinado de Luís XIV, na peça teatral Le Diable Rouge, de Antoine Rault, e que termina com a seguinte fala do segundo para o primeiro:

    - Colbert! Tu pensas como um queijo, um penico de doente! Há uma quantidade enorme de pessoas entre os ricos e os pobres: as que trabalham sonhando enriquecer e temendo empobrecer. É sobre essas que devemos lançar mais impostos, cada vez mais, sempre mais! Quanto mais lhes tirarmos, mais elas trabalharão para compensar o que lhes tiramos. Formam um reservatório inesgotável. É a classe média!


    Grande abraço!

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