sexta-feira, 28 de outubro de 2011

Os Filhos da Troika.

Foto : Luís Sérgio


Os Filhos da Troika

Brincando com as palavras. Mini Conto em jeito poético.



1.      Os passos de um camaleão lusitano ao serviço do grande capital financeiro mundial.
O senhor dos passos
chegou
muito lentamente
muito disfarçadamente
muitos enganou.
Colocou-se em bicos de pés.
Muito em bicos de pés
quase  em suspensão.
Não caiu,
muito falou.
Tudo mentiu
tudo aldrabou
e os crentes
os incrivelmente anjos,
muito mais que anjinhos
encantou.
Os fiéis discípulos
santificaram-no
idolatraram-no,
até veio o Álvaro que os pariu
enxertado em frango de aviário
armado em intelectual, espirrou.
Alguns gritaram
Atenção, muita atenção
O Álvaro é filho da troika
e dos passos que o pariram
na toca entroicado.
A alma já vendeu
os salários tirou
os subsídios matou.
Muitos não ligaram…
Alguém os enfeitiçou.
2.     O silêncio dos inocentes
Alguns gritaram,
o coelho roubou
o coelho roubou.
Outros duvidaram
Outros gritaram
Abra-se a caça,
Enviemos para a toca
O filho da troika
que o pariu.
Alguns exclamaram
A dívida é preciso auditar,
Confirmar.
Muitos não ligaram
Poucos tal não consentiram.
Alguns, apenas alguns, gritaram
Não pagar
suspender
rever
É a opção.
Mandaram-nos calar
não passam na televisão
nem restante comunicação.
É preciso amordaçar
não vá o povo acordar
E descobrir a conspiração.
O filho da diabólica troika
riu
Do povo que iludiu.
Pôs o mago Gaspar a perorar
cousa que ninguém entendeu.
Mexe os lábios, será a falar?!
Ou será que nos cuspiu?!
Porque não o entendemos?
E diz alguma coisa.
Se diz é segredo bem guardado,
bem guardado,
se calhar nem falou
se calhar só espirrou
Maldito fariseu.

3.     Caminho para a vida. Direito ao sonho
Um dia,
num belo e inolvidável dia,
os exauridos Públicos
fartos de empobrecer
fartos de sofrer
ao lado dos Precários,
dos Muitos, Muitos Sem Emprego
e outros famélicos
em marcha forçada,
caminharam para a toca gritando :
Expulsemos os pantomineiros
Mais a troika que os pariu.
Foi imensa a confusão,
incomensurável o alarido
turvou-se o céu.
O mago guinchou
a terra escureceu.
No final ganhou a razão
Venceu A VIDA.
O HOMEM olhou,
Contemplou
O azul entre os azuis
e  SONHOU…
E sonha !
E SONHA!

Luís Sérgio Mendes, Outubro de 2011

Nota Final – advertência ao leitor.

Na perspetiva de Proust, o autor tem apenas que fornecer a possibilidade de interpretação (Marcel Proust – sobre a leitura). Nesse sentido, importa esclarecer que os meus queridos amigos, leitores e leitoras, dentro de certos limites, podem ler como muito bem lhes aprouver, assim, onde escrevi “Filhos da troika”, em bom e fiel vernáculo poderá ler-se “filhos da p*.”. Os mais puritanos e mais dados ao eufemismo poderão ler “ Filhos da mãe”. Outros são livres de interpretar como corja, não confundir com um bom livro do esquecido Camilo de Castelo Branco: A CORJA. Esta corja de que vos falo aparece definida no dicionário como: Conjunto de pessoas de má reputação, de mau caráter. Canalha, gentalha, súcia. Estas são apenas algumas das possibilidades de leitura, o leitor poderá descobrir, encontrar outras tantas, mas reafirme-se mais uma vez, que escrevi, apenas e só: “ Filhos da Troika “.
Perdoe-me o leitor estes devaneios, mas, convém que entre autor e narratário tudo fique bem esclarecido não vá aparecer por aí alguém a sugerir interpretações fora do contexto.





3 comentários:

  1. Caro Luís:

    Único comentário possível: FANTÁSTICO!

    Parabéns e um abraço!

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  2. Sérgio !
    Tal como o comentador anterior , não tenho muito mais a dizer : Fantástico !
    Só lamento que não publiques em livro algumas das tuas coisas.

    grande abraço,
    Filipe

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  3. Caro Luís Sérgio.
    Com sentimento, com arte, com fina ironia.
    Obrigada.
    Bjs.
    Professora

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