O mata-professores e a
questão ideológica.
A questão ideológica, a Escola pública, a troica, os
enfermeiros, as subcontratações, um ministro que quer matar todos e o plano inclinado
do outro que quer matar professores e destruir a classe docente. As lutas, os
recuos aparentes que na aparência trazem uma verdade escondida, muito
escondida, mas, já com rabo de fora. Que desígnios, que intentos, alcandoraram Crato ao
ministério da educação?
- Aparentemente, rigor, exames, mais exames, mais ensino. Com
a ajuda do “plano inclinado” de que só sairá para a rua, e espero eu pelas ruas
da amargura, o senhor Nuno foi-se promovendo e afirmando como defensor de uma
qualidade de ensino que alguns desejavam (desejam) e outros sentiam falta. Vã
glória de mandar! Chegado ao ministério tudo foi diferente, as intenções
tornaram-se outras ou, nem por isso. Na verdade, Crato foi, é, uma grande
desilusão, “ou nem tanto”, como diria o meu amigo e colega Guerra. Do melhor
ensino depressa passou ao ensino mais barato, ao ensino do “mais com menos”. Da
esperança à desilusão foi um ápice, mais rápido que a sombra, o novo ministro
mata-professores mostrou ao que vinha, poupar dinheiro com a Escola Pública,
nomeadamente com professores e funcionários. Não terá sido por acaso, um matemático
com mentalidade crática, não faz as coisas ao acaso, não cortou com nenhuma das
medidas da sua antecessora de má memória que tanto criticava. Com pequenos
acertos de cosmética, o modelo de gestão fascista das escolas continuou; a
avaliação nos moldes errados e espúrios continuou; a exagerada carga horária
aumentou. Estes eram três aspectos fundamentais com os quais era imperioso
romper se, por acaso, só por acaso, quisesse cortar com o consulado de Milú.
Aqui nada mudou, acabou, sim, na véspera, a entrega de prémios aos alunos que
se distinguiam com mérito. O defensor da meritocracia, rapidamente desfez as
dúvidas, mérito sim, mas sem custos. Um pequeno gesto de enorme significado,
que mostrou aos mais atentos ao que vinha: poupar. Imbuído da cartilha de
Gasparzinho e fiel à bíblia que no silêncio dos gabinetes jurara defender: o
malfado “Memorando da troica”, congeminou a mando dos superiores interesses do
capital estrangeiro, nomeadamente o alemão, a melhor e mais certa maneira de
destruir a escola pública. Como fazer, como implodir, então a escola de todos,
já que o ministério precisava de ficar intacto? Reduzir nos professores, poupar
nos professores, destruir, paulatinamente, a classe docente, em nome do rigor,
da gestão dos recursos e outras manobras tais.
Quem anda pela escola, ou vai à escola, nem que seja só como
encarregado de educação, sabe que um dos elementos estratégicos fundamentais
para o funcionamento de um bom conselho de turma é o director de turma. É
fundamental, reforçar, melhorar e até alterar as competências e capacidade de
intervenção dos que desempenham este cargo. As tarefas, muitas delas
burocráticas e inúteis que tem hoje o DT, precisam de ir para o lixo e
atribuir-lhe sim, novas e inovadoras tarefas de gestão pedagógica, para
conseguir isso, o tempo da direcção de turma é mais que escasso. A liderança
cuidada e pedagógica de uma direcção de turma implica tempo, grande
disponibilidade física e psicológica. Para pensar e actuar diferente o
professor coordenador da turma precisa, e todos sabemos que precisa muito, de
mais tempo, muito mais tempo. Que fez o amanuense da troica para a educação,
retirou tempo à direcção de turma, com o argumento falacioso, disse-o, há dias
no parlamento: “Os professores precisam de se dedicar à sua tarefa essencial”.
Sem dúvida, os docentes devem dedicar-se à sua tarefa fundamental, mas não
deste modo. Crato sabe, pelo menos, até agora, isso aconteceu, que todas as
tarefas continuarão a ser cumpridas, com sacrifício da vida pessoal de muitos e
muitas que na sua cegueira zombie continuarão a alimentar o monstro que as
destrói. Mas, até quando, mesmo as “doninhas serviçais” aguentarão sem
“rebentar” ou pestanejar tal trabalho escravo?!
Um dos problemas das escolas, um grande inimigo da qualidade
de ensino, é a indisciplina, normalmente, repito normalmente, porque há sempre
excepções à regra, o número elevado de alunos em algumas turmas só contribui
para ampliar e quase tornar incontrolável este problema. Pois, em relação a
esta matéria, que fez sua excelência, pensando nos números, talvez, só em
números de euros, desviados para pagar juros da dívida, achou que a medida
devia ser combatida e, como? Aumentando o número de alunos por turma, uma
medida de se lhe tirar o chapéu, se pensarmos nas muitas escolas espalhadas
pelo país, dá menos umas quantas turmas, logo menos uns quantos horários, logo
menos uns quantos professores a contratar. Uma medida de poupança que o outro
de falinhas mansas e falsas agradece, a troica nem esperaria tanto. A
indisciplina, com medidas destas aumentará, não tenhamos qualquer dúvida,
aliás, nas barracas onde dei aulas no último ano lectivo, nem sei se cabem 30
alunos. Se calhar à camada, na volta ainda ganharemos uns euros com a ideia se
a exportarmos para a Alemanha ou para a China.
Dada a especificidade e natureza da sua função a carga
horária a que estão sujeitos os professores é pesada, desgastante e impeditiva
de melhor desempenho. Gerir turmas, preparar aulas, ver trabalhos e testes e,
muitas vezes, ao final do dia, participar em reuniões ordinárias e
extraordinárias de uma inutilidade fatigante e ofensiva são um dos principais
inimigos da profissão na actualidade. Sua Exa. achou que os professores se
andavam a dispersar muito e digo eu, entendeu que se estava a gastar demais,
não podia ser, a coisa assim não dá, é preciso exauri-los, pô-los a trabalhar
mais e talvez se poupem mais uns contratos. De certeza que poupa, de certeza
que vai acabando com O PROFESSOR aos poucos, mas amealha mais uns quantos
créditos para o FMI. A continuar assim, acaba medalhado no 10 de junho, mesmo
sem feriado, e o Gaspar ainda o canoniza nalguma igreja mais próxima. Isto de
aumentar a carga horária de uma classe que precisa de mais tempo, cada vez mais
tempo, para se actualizar e formar, só de santo. Nuno Crato está a lidar com
uma das classes mais qualificadas do país, com o espaço onde existem mais
licenciados e mestres por Km2, mas a maneira como lhes fala e os trata parece
que está a lidar com atrasados mentais, tão baixas e ignaras foram as desculpas
que arranjou para aumentar a carga horária. Ouvi-lo na assembleia, na audição
parlamentar sobre educação, foi uma espécie de murro no estômago que até deu náusea,
e eu que até tenho os abdominais bem treinados, nem imaginam quanto.
Acompanhando estas medidas, o mata-professores, ordenou aos
seus directores, a maioria fiéis e obedientes, que enviassem quanto antes os
horários zero, em muitos casos, mesmo sem terem feito a distribuição do serviço
docente. As “estimativas” por alto, ou por baixo, conforme a leitura, deram
números elevados. Conhecendo os totais, pois, tem acesso à plataforma onde
foram colocados os horários zero e outros, o ministro negou-se, até agora, a
divulgá-los, tal o receio da verdade. O que se sabia das escolas levou à
reacção indignada de muitos docentes e de alguns sindicatos, e sublinho alguns,
porque outros, pelos vistos, já venderam a alma ao Diabo e acham que o maior
ataque de sempre aos professores e à escola pública não é nada com eles. Tão
calados andam. Hoje, está em perigo a manutenção da profissão PROFESSOR, tal
como a conhecemos, tentando substituí-la a médio prazo, por jornaleiros mal
pagos de empresas de subcontratação. A resistência foi ganhando forma e
rapidamente passou para a praça pública, descobertos os seus intentos, o
amanuense, apressou-se a dizer, qualquer coisa como: “não sai nenhum professor
dos quadros e estamos a trabalhar para vincular os contratados” e,
atabalhoadamente, muito em cima do joelho, enviou para as escolas uma nota
informativa que permitia elaborar alguns projetos de combate ao insucesso. A
manobra não ficou clara, mas significou um nítido recuo. Perante a luta dos
professores, era preciso calá-los e calar a opinião pública. O que vai
acontecer ao certo só se saberá em Setembro, porém devemos continuar a luta,
este volta atrás do ministro foi temporário, estratégico, para já, viu que
alguns professores estavam acordados, mas não vai desistir. Convém que nos lembremos
que pouco depois de tomar posse, Nuno Crato, criticava o concurso nacional de
professores. Não repetiu muitas vezes, mas está a preparar a sua destruição de
mansinho, como manda a troica e os interesses privados. Temos que estar
vigilantes, destes farsantes um mal nunca vem só.
Como um mal nunca vem
só, é aqui que entra a questão ideológica, o governo de amanuenses do qual São
Nuno faz parte, jurou a “pés juntos” fidelidade ao FMI e ao memorando da
troica, que mais não é do que uma bíblia para destruir todos e cada um dos
direitos dos trabalhadores para pagar os juros da dívida, e, digo juros, porque
a dívida, por este andar, ninguém pagará. Querem convencer-nos que o país só se
tornará competitivo, se obedecer cegamente aos “mercados”. Para já, não importa
discutir o que é isso dos mercados? Essas competividade pensam eles e querem
fazer-nos acreditar que só se consegue se tivermos salários e condições de
trabalho ao nível da China e do pior dos mundos. Daí termos assistido a que, na
mesma altura, o ministério da saúde, tentasse subcontratar cerca de 70 enfermeiros para a ARS-LVT
- “receberam propostas para receberem 3,96 euros para 35 horas semanais”, assim
noticiava o jornal público.
Funcionários da área da saúde, altamente qualificados, pagos a 3,96 euros hora.
Pensaríamos impossível, mas perante a denúncia e a luta o ministério recuou, e
o ministro até disse que nada sabia. Faz tudo parte da mesma estratégia: Para
destruir o serviço nacional de saúde é preciso destruir e domar os
profissionais de saúde; para destruir a escola pública é preciso destruir e
domar os professores. O grande sonho dos mata-professores é correr com o máximo
de docentes das escolas, lançar milhares no desemprego e, mais tarde, poder
subcontratá-los, se calhar a uma empresa do Relvas, não a 3,6 euros hora, mas
2euros hora, ou menos…
Ora, como vemos, com estas e
outras manobras, nomeadamente os exames, de que falarei um dia destes, estão
criadas as condições para a bagunça, insucesso e degradação da escola pública.
Criando as piores condições nas escolas, onde o insucesso e a indisciplina
aumentarão, lançam-se incentivos para quem pode “correr” com os filhos para o
privado. Sobre este assunto, um grupo de cidadãos reunidos no dia 18 de Julho,
na Escola Secundária de Raul Proença, nas Caldas da Rainha, criticava:
“…a forma como o Ministério da Educação, através da
Direcção Regional de Educação de Lisboa e Vale do Tejo, tem privilegiado a
atribuição de turmas aos estabelecimentos de ensino particular e cooperativo,
pagando cerca de 85 000 euros por turma, em prejuízo das escolas públicas do
concelho, originando a situação impensável de haver dezenas de professores sem
componente lectiva, e contribuindo, assim, para uma despesa desnecessária para
o Orçamento de Estado, numa altura em que os cortes na Educação colocam
Portugal em último lugar na listagem de países da OCDE que menos investem nesta
área.”
Hoje só um ingénuo, ou um anjinho, muito anjinho, não percebe que o
problema, não é conjuntural, mas sobretudo, uma questão de uma ideologia de
poucos que quer dominar e lançar para a miséria muitos. Hoje, se nada fizermos,
o inferno está aí.
Aos profissionais da educação e a
todos os cidadãos interessados em defender a profissão PROFESSOR e a ESCOLA
PÚBLICA só lhes resta lutar, resistir, por todos os meios e de todas as formas
ao maior ataque de sempre. A partir de agora, todas as formas de luta serão
legítimas, e quando escrevo todas, são mesmo todas. Ilegítimo, ilegal,
monstruoso e bárbaro é o que os mata-professores e mata-cidadãos pretendem levar
a cabo.
Segundo James Joyce, “Tudo é caro de mais quando não é necessário”. Este
governo não é necessário e está a ficar-nos muito caro, por isso, resta-nos
fazer o que ainda não foi feito: Contribuir com toda a energia para o derrube
deste ministro e deste governo. Será que ides hesitar?
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