domingo, 2 de dezembro de 2012

Ainda a escusa.



Ainda a escusa e os seus motivos mais do que justos.
Perguntaram-me, recentemente, se conhecia professores que fossem pedir escusa de avaliadores externos. Numa resposta rápida, disse qualquer coisa como: na verdade, conheço muitos docentes que vão pedir escusa, umas dezenas, para além dos fatores avançados no modelo que divulguei no blogue, há outras razões. Os professores andam muito desgastados, estão com mais trabalho, mais horas na escola, mais alunos, mais problemas disciplinares, mais burocracia, a fadiga física e psicológica traz os professores à beira de um ataque de nervos. Aguentar o trabalho dito normal é, neste momento, mais duro que nunca, o ambiente que se vive fora das escolas passa para as salas de aula. Há docentes com dez e mais turmas, mais de trezentos alunos, diferentes níveis, aulas para preparar, trabalhos e testes para ver, muitos trabalham mais de 50 horas semanais. Deste modo, a maioria não pode com mais esta sobrecarga, andar de escola em escola, algumas longe, em reuniões, a observar aulas, a analisar relatórios e planificações. É trabalho escravo, com a agravante de se saber que tanto esforço será inglório, com as carreiras “congeladas, ninguém progride”. Para se perceber quão tamanha é a fraude, imagine-se que, digo aos meus alunos: “ Meus senhores, a partir de hoje, teremos um teste sumativo, todas as semanas, por isso, preparem-se. Mas, aviso já que independentemente dos resultados não transitarão de ano letivo nos próximos tempos”. Ficarão retidos porque não há condições para a progressão. Qual seria a motivação? Não seria isto um esforço acrescido e desonesto? Não seria uma farsa indigna? Por variados motivos os docentes têm a noção que se trata de uma fraude, assistir a aulas de colegas, alguns já com mais de 20 anos de carreira, nesta fase, não traz qualquer vantagem pedagógica/científica, trata-se apenas de aplicar um mero mecanismo de controlo economicista que impeça a progressão. Teremos professores licenciados a avaliar doutores e mestres só porque estarão em escalões superiores aos dos colegas. Numa instituição que deveria valorizar a qualificação e a formação, está tudo às avessas. A avançar esta iniquidade serão cada vez mais os professores a trabalhar para a avaliação e não para os alunos.
O erro disto tudo está em considerar a avaliação desligada da gestão escolar, este processo está a tornar-se num mero instrumento de gestão, no pior sentido do termo, é uma arma para a dominação, para a imposição, para comprar o silêncio e a aparência de que tudo vai bem. Para o trabalho sério com os alunos nada acrescenta, pelo contrário.
Alguns estão dispostos a tudo para não alinhar nesta fantochada, muitos dizem que não aguentarão, nem sabem o que fazer, mas não podem mais. Nesta altura, esta farsa trouxe ruído, desgaste e dispersão a uma classe abatida e desmotivada com cortes de salário, mais horas de trabalho, menos condições e desde o tempo de Maria de Lurdes Rodrigues a perder direitos e dignidade.
Seremos indignos se não boicotarmos esta farsa, mereceremos a indignidade se não resistirmos por todos os meios ao nosso alcance. O professor, o verdadeiro e digno professor é aquele que faz a diferença. Ou somos capazes de decidir do pouco que resta do nosso tempo ou, definitivamente, transformar-nos-emos em zombies indiferentes e dignos de indiferença.





1 comentário:

  1. Caro amigo Luís Sérgio:

    Bela reflexão de onde se conclui que "está tudo às avessas"... o que não admira depois de vermos a bandeira nacional como vimos!

    A comparação que apresentas é excelente - o que diriam os célebres iluminados governamentais se a situação se tornasse realidade?

    Este país está às avessas... até quando?

    Grande abraço!

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