Ainda a escusa e os seus motivos mais do que justos.
Perguntaram-me, recentemente, se conhecia
professores que fossem pedir escusa de avaliadores externos. Numa resposta
rápida, disse qualquer coisa como: na verdade, conheço muitos docentes
que vão pedir escusa, umas dezenas, para além dos fatores avançados no
modelo que divulguei no blogue, há outras razões. Os professores andam muito
desgastados, estão com mais trabalho, mais horas na escola, mais alunos, mais
problemas disciplinares, mais burocracia, a fadiga física e psicológica traz os
professores à beira de um ataque de nervos. Aguentar o trabalho dito normal é,
neste momento, mais duro que nunca, o ambiente que se vive fora das escolas
passa para as salas de aula. Há docentes com dez e mais turmas, mais de
trezentos alunos, diferentes níveis, aulas para preparar, trabalhos e testes
para ver, muitos trabalham mais de 50 horas semanais. Deste modo, a maioria não
pode com mais esta sobrecarga, andar de escola em escola, algumas longe, em
reuniões, a observar aulas, a analisar relatórios e planificações. É trabalho escravo,
com a agravante de se saber que tanto esforço será
inglório, com as carreiras “congeladas, ninguém progride”. Para se perceber quão tamanha é a fraude,
imagine-se que, digo aos meus alunos: “ Meus senhores, a partir de hoje,
teremos um teste sumativo, todas as semanas, por isso, preparem-se. Mas, aviso
já que independentemente dos resultados não transitarão de ano letivo nos
próximos tempos”. Ficarão retidos porque não há condições para a progressão.
Qual seria a motivação? Não seria isto um esforço acrescido e desonesto? Não
seria uma farsa indigna? Por variados motivos os docentes têm a noção que se
trata de uma fraude, assistir a aulas de colegas, alguns já com mais de 20 anos
de carreira, nesta fase, não traz qualquer vantagem pedagógica/científica, trata-se apenas de aplicar um mero
mecanismo de controlo economicista que impeça a progressão. Teremos
professores licenciados a avaliar doutores e mestres só porque estarão em
escalões superiores aos dos colegas. Numa instituição que deveria valorizar a
qualificação e a formação, está tudo às avessas. A avançar esta iniquidade
serão cada vez mais os professores a trabalhar para a avaliação e não para os
alunos.
O erro disto tudo está em considerar a avaliação
desligada da gestão escolar, este processo está a tornar-se num mero
instrumento de gestão, no pior sentido do termo, é uma arma para a dominação,
para a imposição, para comprar o silêncio e a aparência de que tudo vai bem.
Para o trabalho sério com os alunos nada acrescenta, pelo contrário.
Alguns estão dispostos a tudo para não
alinhar nesta fantochada, muitos dizem que não aguentarão, nem sabem o que
fazer, mas não podem mais. Nesta altura, esta farsa trouxe ruído, desgaste e
dispersão a uma classe abatida e desmotivada com cortes de salário, mais horas
de trabalho, menos condições e desde o tempo de Maria de Lurdes Rodrigues a
perder direitos e dignidade.
Seremos indignos se não boicotarmos esta
farsa, mereceremos a indignidade se não resistirmos por todos os meios ao nosso
alcance. O professor, o verdadeiro e digno professor é aquele que faz a
diferença. Ou somos capazes de decidir do pouco que resta do nosso tempo ou,
definitivamente, transformar-nos-emos em zombies indiferentes e dignos de
indiferença.
Caro amigo Luís Sérgio:
ResponderEliminarBela reflexão de onde se conclui que "está tudo às avessas"... o que não admira depois de vermos a bandeira nacional como vimos!
A comparação que apresentas é excelente - o que diriam os célebres iluminados governamentais se a situação se tornasse realidade?
Este país está às avessas... até quando?
Grande abraço!